quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Tito Lívio Ferreira


Notas biográficas

Por Sivar Hoeppner Ferreira

A povoação de Bica de Pedra, hoje cidade de Itapuí, onde Tito Lívio Ferreira nasceu, situava-se próxima à margem direita do rio Tietê, quase no limite da região habitada da então Província de São Paulo. Havia sido fundada em terras do seu avô materno, Antonio Joaquim da Silva Fonseca, que pouco  mais de trinta anos antes, vindo de Minas Gerais, havia comprado extensa gleba em terras ainda cobertas por floresta. Nessa região seu pai, o português Manoel Rodrigues Ferreira, natural da pequena localidade de Serroventoso, conselho de Soure, distrito de Coimbra, exercia a profissão de empreiteiro de obras de alvenaria. Casara-se com Avelina Augusta ferreira do Amaral, neta de João Antonio, de quem havia herdado uma gleba a menos de um quilometro da vila nascente, área de tamanho regular, mas ainda coberta por mata virgem, sem nenhuma benfeitoria. Ele e a neta do patriarca fundador lançaram-se à aventura de derrubar a mata, plantar café e formar uma fazenda. É ali que nasce Tito Lívio Ferreira, a 4 de junho de 1894, primeiro de uma série de dez filhos.

As primeiras letras e os primeiros números aprende-os na escola de um professor particular pois não havia ainda escola pública na vila. Ao mesmo tempo ajuda na faina rural vendendo leite nas redondezas. Prossegue seus estudos no Ateneu Jahuense, internato na localidade de Jahu, o maior núcleo urbano nas proximidades. Lá inicia o então ginásio e permanece até 1909 quando uma geada catastrófica reduz grandemente as rendas do pai, tornando impossível a sua permanência. Volta então às lides do campo trabalhando como feitor da turma que executava a manutenção da propriedade. Mas então revela-se a vocação para as letras, impondo-se. Começa a escrever crônicas para um folhetim satírico “O Tagarella”, primeiro jornal publicado na cidade. Foi o início da sua atividade jornalística que se prolongaria até pouco antes de falecer.

As finanças paternas tendo melhorado é então enviado para Piracicaba prestando exame para ingresso na Escola Complementar, instituição destinada a formação de professores primários que logo depois sofreria uma reforma transformando-se na Escola Normal.

Piracicaba era então um florescente núcleo urbano, que além da mencionada escola para formação de professores, possuía também uma já famosa Escola Agrícola, única no Brasil, destinada á formação de engenheiros agrônomos. A elas acorriam jovens, não só de diversos pontos do estado mas também de todos os pontos do país, o que a fazia uma típica cidade de estudantes.

Colabora para o “Jornal de Piracicaba” com artigos, crônica e poesia. Ali também vem a conhecer a sua musa, Herminda Hoeppner, filha da proprietária de uma chapelaria da cidade, com quem se casaria em junho de 1917. Dessa união resultaram os filhos: Herti Hoeppner Ferreira (nascida em 04/10/1919 – falecida em 09/10/1969), João Manoel Hoeppner Ferreira (nascido em 24/06/1921 e falecido em junho de 1981) e Sivar Hoeppner Ferreira (nascido em 11/06/1932).

Não terminou o curso em Piracicaba. A implicância de um mestre, que se recusava a aprová-lo, por motivos outros que não de ensino, levaram-no a transferir-se para Campinas, onde se diplomou em 1915.

No ano seguinte inicia atividade como professor primário exercendo-a em diversas cidades da região. Em 1919 é removido para sua cidade natal como adjunto do Grupo Escolar (atualmente denominado Escola estadual “Manoel Rodrigues Ferreira”). Por essa época participa ativamente de um grupo de teatro amador atuando em várias montagens.

Em 1924, vagando o cargo de tabelião de Bica de Pedra passa a ocupá-lo deixando o magistério. Ao mesmo tempo retoma as atividades jornalísticas nas folhas locais “A Cidade” e “Correio Popular”.

A crise econômica de 1929, com a queda considerável dos preços do café, produto quase exclusivo da lavoura local, afeta grandemente as suas rendas. Esse fato, acrescido da consideração da educação dos dois filhos (um terceiro haveria de seguir-se pouco tempo depois), leva-o a transferir a residência para a capital do Estado, nos primeiros meses de 1932.

Mal havia se instalado na já grande cidade, eclode a Revolução Constitucionalista que empolgou quase toda a população paulista, de julho a outubro desse ano. Apresenta-se como voluntário sendo designado para trabalhar nos serviços de apoio, de retaguarda.

Derrotada a revolução, voltando as atividades à normalidade, inicia-se uma nova fase na sua existência agora como professor secundário. Leciona primeiramente Francês e mais tarde História no Colégio Ipiranga, e depois em outros estabelecimentos. Fruto dessa atividade publica livros didáticos nessas matérias que tiveram, na época, grande aceitação. Empenha-se, juntamente com outros colegas, junto às autoridades, em campanha para melhoria das condições de trabalho dos professores, especialmente na recepção de salários durante as férias, que até então não eram pagos. Foi um dos pioneiros do Sindicato dos Professores Secundários do Estado de São Paulo.

Volta a escrever para os jornais, passando a ser colaborador assíduo do “Estado de São Paulo”, com artigos sobre variados assuntos. Reunindo esses artigos, publica em 1944 seu primeiro livro “História e Lenda”. Mais tarde escreveu também em outros jornais da capital sobre História, especialmente História de São Paulo: escreveu na “A Gazeta” (onde chegou a ter uma coluna diária sobre história), “Correio Paulistano”, “Diário Popular”, além de jornais do interior. Foi também editor do “Jornal de São Paulo” e do “Jornal de Portugal”, então editados na capital paulista.

Seus estudos e publicações no campo da História levaram-no, em 1939, ao Instituto histórico e Geográfico de São Paulo, a cuja diretoria pertenceu durante decênios. Substituindo o historiador Affonso de E. Taunay, e por indicação dele, passa a lecionar na cadeira de História da Civilização Brasileira, nas faculdades “Sedes Sapientiae” e de São Bento, ambas integradas posteriormente na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Com a aposentadoria do Historiador das Bandeiras na direção do Museu Paulista, em 1945, é por ele indicado para substituí-lo, sendo porém nomeado para a seção de História. Por essa época inicia intenso trabalho de pesquisa cujos resultados iniciados com a publicação de “Gênese Social da Gente Bandeirante”, ampliaram-se por 14 obras, além de incontáveis artigos.

Ao se comemorar o 4º Centenário da fundação de São Paulo, em 1954, liderou um movimento – denominado Movimento Pró Padre Manoel da Nóbrega – destinado a dar àquele jesuíta seu verdadeiro lugar, não só na fundação da cidade como nos primeiros anos do povoamento do Brasil. O movimento culminou com a realização de um ciclo de conferências, denominadas Conferências Nobreguenses, no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e com a ereção de um monumento.

Em 1956 preside e organiza – juntamente com o irmão Manoel Rodrigues Ferreira – também no
Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, a Primeira Jornada Paulista da Revisão da História do Brasil, congresso cuja finalidade dar um novo enfoque à nossa História, conforme a documentação, sem idéias pré-concebidas ou critérios subjetivos.

Suas atividades projetam-se então além-atlântico. Em a957 esteve, a convite do governo português, durante três meses, realizando pesquisas em arquivos, bibliotecas e museus de Portugal. Participou de diversas conferências, seminários e colóquios, no Brasil e em Portugal, sendo escolhido para falar na sessão inaugural do 1º Congresso de Cultura das Comunidades Portuguesas no Mundo.

Seu pendor associativo levou-o a fazer parte de quase todos os Institutos Históricos do Brasil. Pertenceu também a Academia Paulista de Letras, ao Instituto de Coimbra e a Sociedade geográfica de Lisboa. Fundou diversas entidades culturais, como a Ordem Nacional dos bandeirantes, a Academia Paulista de História, a Academia Paulistana da História.

Nos últimos anos da sua vida exerceu intensa e extensa atividade como conferencista em escolas, universidades e associações de diversos tipos discorrendo sobre História do Brasil, esclarecendo e refutando interpretações errôneas do período brasileiro sob a administração portuguesa.

Recebeu numerosas condecorações, entre as quais a Ordem de Santiago da Espada, do governo português, no grau de comendador e a Ordem do Ipiranga, do governo do Estado de São Paulo, no grau de grã-cruz.

Faleceu aos 94 anos, aos 16 de dezembro de 1988.

Obras Publicadas

a) História

  1. História e Lenda, Ed. Particular, São Paulo, 1944.
  2. Gênese Social da gente Bandeirante. Cia. Ed. Nacional, São Paulo, 1944. Coleção Brasiliana
  3. O abrasileiramento do brasileiro, Ed. Guairá, Curitiba, 1946. Col. Caderno Azul.
  4. Padre Manoel da Nóbrega, fundador de São Paulo, Ed. Saraiva, 1957.
  5. História da Beneficência Portuguesa, Ed. Saraiva. São Paulo, 1959
  6. História de São Paulo, Ed. Biblos, São Paulo, 1964 – 2 volumes.
  7. História da Educação Luso-brasileira, Ed. Saraiva, São Paulo, 1966.
  8. Nóbrega e Anchieta em São Paulo de Piratininga, Ed. Conselho estadual de Cultura, São Paulo, 1970, 2ª edição.
  9. Técnica da pesquisa histórica, Ed. Inst. De Cultura e Ensino Pe. Manoel da Nóbrega, São Paulo, 1974
  10. O idioma do Brasil é o português? Ed. Cupolo, São Paulo, 1980.
  11. A Ordem de Cristo e o Brasil, Ed. Ibrasa, São Paulo, 1980.
  12. Portugal no Brasil e no mundo, Ed. Nobel, São Paulo, 1984.

b) História – em colaboração com Manoel Rodrigues Ferreira

  1. História da civilização brasileira, Ed. Biblos, São Paulo, 1959.
  2. A maçonaria na independência do Brasil, Ed. Biblos, São Paulo, 1972 – 2 volumes.

c) Obras Didáticas (todas editadas pela Cia. Editora nacional)

  1. História do Brasil para 3ª e 4ª série ginasiais, 1947 – 4 edições.
  2. Premier Livre de Français – São Paulo, 1953 – 24 edições.
  3. Deuxième Livre de Français – São Paulo, 1953 – 16 edições
  4. troisième livre de Français, São Paulo, 1957 – 3 edições.  

4 comentários:

  1. O texto que você se baseou para esta postagem não fala da passagem dele pelas Escolas Reunidas de Cascalho?

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    1. De fato foi um lapso. Obrigado lembrar-me. Como soube?
      Sivar Ferreira.

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  2. Caro Sivar. Agradeço imensamente a disposição de expor um pouco da vida de teu pai, brilhante herói da verdade. Espero que sua vida tenha sido justa em retribuir teu velho pai pelas obras em respeito da consciência Histórica Brasileira. Espero que o bem e a saúde o acompanhe. Abraços! Danilo Ribeiro Leite.

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  3. Prezado,

    Gostaria de verificar qual é seu contato de email para que possamos falar sobre a publicação de uma nova edição da obra de Tito.

    Obrigado!

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